A dor é um tema que tido vontade de escrever sobre há já algum tempo. Tenho vindo a tentar juntar algumas ideias sobre o tema, a experiência, as histórias partilhadas e o que testemunho, para agora tentar transmitir algo de relevante para todos nós, senão, apenas para comigo mesmo. Este processo é no entanto incrívelmente desafiante e é também por esse motivo que me tenho aproximado desta vontade de reflectir e escrever sobre a Dor, e espero que se torne evidente, nos primeiros instantes do texto que se segue, a razão de tal dificuldade.
A sensação física e emocional de dor traduz-se muitas vezes, principalmente quando uma é dor nova, em uma agonia deseperante. Perante esta sensação reagimos com aversão. Fugimos e tentamos nos tornar distantes desta sensação que nos preenche a mente e perturba o corpo. No entanto, eu sinto que o quanto mais fugimos e nos afastamos, mais esta sensação nos vem rodear e prosseguir como se servisse da nossa aversão apática para se espalhar. Não acredito que a dor se sirva desta reação apática para se expandir, antes acredito que nós ao dispensarmos esta sensação e conferimos a esta sensação uma etiqueta de “indesejada”, “não apreciada”, a deixamos no corpo, na mente e no espírito como um lixo tóxico e assim inadvertidamente não procuramos a sua intenção e propósito e, num sentido lato, a forma de a usar, reciclar e reduzir. É claro que fugimos e dispensamos a dor que sentimos como automatismo mecânico. Mas não é da dor que fugimos realmente, mas do que a causa. A dor é uma sensação que nos avisa e antecipa piores efeitos da sua possível causa. Mas é no momento da dor que temos de agir, não a dispensar e mover-nos em comunicação com ela. Num exemplo grosseiro: se estamos com a água quente a correr sobre a nossa mão, poucos momentos antes de a água começar a ferver e começar a danificar os tecidos da nossa pele sentimos um dor imensa, que será suficiente para nos fazer automaticamente mover a mão para fora da água a correr. Neste caso, o nosso subconsciente toma a reação saudável de evitar o pior. Noutros casos de dores induzidas ou mais crônicas acredito que o trabalho tem ser feito a um nível mais consciente. Sejam dores internas, externas, emocionais ou físicas, de dias ou semanas ou meses ou mais, tem que haver um trabalho de descobrir a forma de criarmos subconscientemente padrões para evitar a dor. Podendo as estratégias presentes de fugir das causas da dor ser vícios clínicos, alimentares, emocionais, comportamentais, etc... Trazeriamos assim à superficie do nosso consciente tais padrões comportamentais para nos ajudar a avançar, identificando e realmente ultrapassar as reincidentes dores. Não digo que devemos de imediato abolir tais vícios que nos tornam dormentes da verdadeira cura, (ou secalhar estou) mas sim pelo menos saber e descobrir como nos servem a longo prazo. Sentimos aversão e nos criamos distantes desta sensação agoniante. Criamos uma rotina de escape. Mas talvez esta sensação que sentimos, que nos impossibilita de desfrutar da vida seja a chave que nos vai permitir voltar a desfrutar a vida, a um maior potencial. Claro que é natural não querermos atrair a dor, mas quando a temos, talvez não fugindo, encontramos um limite para pararmos. Paramos. E no devido tempo voltamos e redescobrirmos o nosso caminho novamente, restaurados, mais fortes e resilientes. Eu estou de acordo com o verso dos Yoga Sutras de Patanjali que se refere à dor: 2:16 Heyam Durham Anagatam, traduzindo, a dor que virá é para ser evitada. A dor não é para ser promovida, não é para ser procurada, não é para ser extendida para o futuro. Tem a sua importância no presente. Quando a encontramos ou nos encontramos com dor, tão dificil como é descarta-lá, pode ter um serviço de equivalente importância . E talvez será a dor do presente um aviso para evitar a dor no futuro. E nosso corpo, mente e espírito ficará mais forte, resistente, imune e conhecedor. Sim, conhece a tua dor! Eu convido a conhecer a dor, a nossa e a dos outros até. Assim teremos mais compreensão das suas causas, com raiz no passado, e consequências para aquilo que hoje somos. Praticamos compaixão com a mágoa, a ferida e com o sujeito que está intimamente ligado à sensação. Muitas dores surgem porque queremos alcançar um ideal que projetamos para o futuro, agora. Escapando o presente, por vezes cobertos de mágoas que necessitam de reflexão, ou outras causas com raizes no nosso passado distante ou próximo. São projeções sobre nós (alimentadas por nós, seja qual for a sua fonte) que decidimos tentar escapar, saltar desse momento de necessária aceitação de estar presente com o nosso estado e assim permitir que a dor se instale. Geralmente acontece após um evento infortúnio, perpetuando-se. Como se num acto precipitado um corredor, que corre em direção a um obstáculo a saltar, se precipita e antes de estar no alcance correto, num timing errado, se impulsiona colocando mal o seu pé no piso. O sujeito magoa o seu tornozelo e cai contra o obstáculo, parando de imediato. Por querer estar para lá do obstáculo, no futuro. No presente o sujeito precipita-se. E ao invés de estar descansado do outro lado do obstáculo, caiu magoado deste lado. Sei que todos temos acidentes e quedas na vida. Assim aprendemos e evoluímos, chorando ou não todos caímos magoados uma vez ou outra. Basta pensarmos de nós em criança. Mas é por nos apercebermos destas questões que evoluímos para lá dos nossos obstáculos, mesmo que subconscientemente, ou em outro nível. É através de uma ligação empática que descobrimos na Dor a sua ferramenta e função nas nossas vidas. Por isso aconselho, na medida do possível, não fugir e não anestesiar a dor. Em muitos casos, e especialmente quando a dor é recente, parece que vem de todas as direções e torna-se difícil saber de onde parte esta dor. A dor é nova e não familiar e parece que é maior que nós. Assim generalizamos a dor e não a conseguimos localizar em um ponto, para daí partirmos a tratar o pânico de sensações do corpo e trabalhar na sua origem. Com discernimento podemos procurar especificar a sua localização. Um par de respirações profundas e trazer a mente ao presente pode ser suficiente para encontrar o ponto que mais necessita de atenção, empatia e de energia de um modo consciente. O que parecia ser uma dor imensa no tornozelo inteiro reduz-se a um ponto, a uns ligamentos rasgados por exemplo, e assim muito mais fácil de lidar e de ter em conta. Uma vez que li “A Décima Revelação”, de James Redfield, algo que antes tinha pensado ajudar a compreender a origem e a causa da dor veio se a confirmar. Tratava-se de descobrir quais os pensamentos que corriam na nossa mente no momento antes do acidente. Num excerto do livro o protagonista magoa-se e a personagem que veio a seu auxílio pede-lhe para localizar o ponto e especificar, para si mesmo, o local da dor. E depois pede-lhe para reflectir e descobrir o que corria no seu pensamento no momento exactamente antes de acidente. Claro que só após um esforço que ver além da nébula frenética de pensamentos e de sensações traumáticas físico-emocionais que qualquer acidente pode ter, o protagonista pode identificar a causa e razão de tal acidente, de tal dor. Tornando-se consciente da causa, os protagonistas desta cena que é a nossa vida podem vir a curar hábitos nefastos, perdoar e resolver conflitos no passado e evitar acidentes no futuro. Contudo esta reflexão e teoria sobre a dor serve para nos guiar. E na prática resta nos apenas perguntar e responder com confiança, honestidade positiva e com caráter de explorador: se é grave? se vou melhorar? se está aqui para me guiar, e para onde? para me curar?... e ouvir, cuidadosamente, a Dor falar. EN Pain has been a theme I’ve been wanting to write about for a long time now. I’ve been trying to gather some ideas about the theme, the experience, the shared stories and those I witness, so that now I can transmit something relevant for all of us, if not, only for myself. This process is meanwhile incredibly challenging and is also for that motive that I’ve been getting closer to this willness of reflecting and writing about Pain, and I hope that it becomes clear, in the first instants of the paragraph that follows, the reason for such difficulty. The phisical and emotional sensation of pain often translates, specially when a pain is new, in a desperate agony. Behond this sensation we react with aversion. We run away and try to become distant of this sensation that fills up the mind and disturbs the body. Meanwhile, I feel that the more we escape and run away, the more this sensation comes to surround us and chase us like if it was serving itself from our apathic aversion to spread. I don’t believe that pain serves itself of this apathic reaction to expand, I rather believe that as we dispense this sensation and confer to this sensation a label of “unwanted”, “unappreciated”, leaving it in the body, in the mind and in the spirit like a toxic waste, and so inadvertently we don’t seek its intention and purpose and, in a broad sense, a way to use, recicle and reduce it. Of course we run away from and dismiss the pain we feel as a mechanic automatism. But it isn’t from pain that we really run away from, but from what it is causing it. Pain is a sensation that lets us know the coming of worst effects of it’s possible cause. But it is in the moment of pain that we have to act, not dismiss it and move in communication with it. In a gross example: if we are with hot water running over our hand, just before the water starts boiling and starts to damage our skin tissues we feel an immense pain, that is enough to make us automatically move our hand out of the running water. In this case, our subconscious takes the healthy reaction of avoiding the worst. In other cases of induced or more chronic pains, I believe that the work has to be done at a more conscient level. Being internal, external, emotional or physical, of days or weeks or months or more, there has to be a work of discovering a way to create subconsciously patterns to avoid pain. May the current strategies of escaping the causes of pain be clinical, eating, emotional, behavioral addictions or disorders, etc... We would bring in this way to the surface of our conscience such patterned behaviors to help us move onwards, by identifying and to surpass the recidivist pains. I’m not saying we should immediately abolish such addictions that make us numb from true cure, (or maybe I am) but yes, to at least know and learn how these are serving us in a long term. We feel aversion and we create ourselves distant of this sensation of agony. We create an escape routine. But maybe this sensation we feel, that keeps us from enjoying life, is the key that will allow us to return to enjoy life, to a bigger potencial. Of course we don’t want to attract pain, but when we have it, maybe not running away, we’ll find a limit to stop. We stop. And in the right time we return and rediscover our way again, restored, more strong and resilient. I am in agreement with the verse of the Yoga Sutras of Patanjali that referes to pain: 2:16 Heyam Durham Anagatam, translating, the pain that is yet to come is to be avoided. The pain is not to be promoted, is not to be searched, it is not to be extended to the future. It has its importance in the present. When we find it or we find ourselves with pain, as hard as it is to let go of it, it can have a service of an equivalent importance. And maybe it will be the pain of the present a warning for future pain to avoid in the future. And our body, mind and spirit will stay stronger, resistent, imune and knowledgeable. Yes, know your pain! I invite you to know pain, yours and of the others even. In this way we’ll have more understanding of their causes, with root in the past, and the consequences to that which we are today. We practice compassion towards the hurtful, the wound and towards the subject that is intimately connected to the sensation. Many of the pains come up because we want to reach an ideal we project to the future, now. Escaping the present, occasionally covered in hurtful feelings that need reflection, or other causes with roots in our past, distant or close by. They are projections about us (fed by us, whatever may their source be) that we decide to escape, leap from that moment of needed acceptance to be present with our state and in this way allow that the pain settles. Generally it happens after an infortunate event, extending it. Like in a precipitated act a runner, that runs in the direction of an obstacle to jump, rushes and before being in the correct range, in wrong timing, impulses it self wrongly with his foot badly placed in the floor. The subject hurts it’s ankle and falls against the obstacle, stopping immediately. Because of wanting to be behond his obstacle, in the future. In the present the subject rushes. And instead of being rested on the other side of the obstacle, he fell hurt on this side. I know we all have accidents and falls in life. It’s like this we learn and evolve, crying or not, all of us have fallen and got hurt once or twice. Only need to think of us as a child. But it is because we realize about these questions that we evolve behond our obstacles, even if subsconsciously or on another level. It is through an empathic connection that we discover in Pain it’s tool and function in our lives. And so I advise, in a way that is possible, not run away or numb Pain. In many cases, and specially if the pain is recent, it seems like it’s coming from all directions and it becomes difficult to know where does this pain starts. The pain is new and non-familiar and seems to be bigger than us. In this way we generalize pain and we cannot localize it in one point, so that from there we can treat the panic of sensations of the body and work at its source. With discernment we can search to specify its location. A couple of deep breaths and bringing the mental activity to the present might be enough to find the point that most needs attention, empathy and energy in a more conscious mode. What felt like being an immense pain in the whole ankle reduced itself to a single point, to a few torned ligaments for example, and in this way more easy to deal with and be aware of. Once I’ve red “The Tenth Revelation”, by James Redfeild, something I had before thought of to be helpful to come to understand the origin and cause of pain came to confirm. It was about discovering which of the thoughts were running through our mind in the moment right before the accident. In a part of the book the protagonist hurts himself and the character that comes to his aid asks him to localize the point and specify, for himself, the location of the pain. And then asks him to reflect and discover what was running through his mind in the exact moment before the acident. Of course that only after an effort of seeing behond the frenetic cloud of thought and traumatic physical/emotional sensations that any accident can have, the protagonist did identify the cause and root for such an accident, for such a pain. Becoming conscient of the cause, the protagonists of this scene that is our life can come to cure nefarious habits, forgive and resolve conflicts in the past and avoid accidents in the future. In the end this reflection and theory on pain serves to guide us. And in practice it just leaves us to ask and answer in confidence, positive honesty and with the character of an explorer: if is it seriously bad? If I’m I going to get better? If it is here to guide me, and to where? To heal me?... and listen, carefully, the Pain speaking. 02.03.2018 Sérgio Ramos
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