Ainda não compreendo porquê dizer uma coisa e não a fazer. É inevitável a falsidade aparente secalhar. Toda a gente sabe da existência de dúvidas e de intenções. Mas porquê expressar a afirmação a um compromisso, sem expressar paralelamente as dúvidas e intenções que a acompanham? Secalhar as dúvidas não são para ser alimentadas e as intenções estão evidentes, maior parte das vezes. Muito bem! Mas então porque não ir adiante com o que nos compremetemos com as proferidas palavras?
Bem, eu desde bastante tempo ganhei o hábito de pesar bem as palavras e de as escolher bem. A partir dessa altura tornei-me mais leal, tanto a mim, aos outros, como também às palavras. Hoje em dia o uso e mau uso das palavras levou a criar nelas uma redondância tremenda, como se tivessemos corrumpido o seu significado. Lembro-me facilmente daqueles empregados de mesa que passando por nós repetem “já vou, já vou, já vai ser atendido, um segundo”, independentemente das dúvidas, a intenção foi expressada primeiro, e acho bem. Mas depois passam 20 minutos e só aì somos atendidos, e repetitivamente todos os dias a mesma coisas se sucede. O simples “ já vou” deixa de existir, torna-se uma vaga forma de suprimir a sinceridade e cria-se um “já vou” desprovido de significado. Já ninguém confia num “já vou”. Às vezes acontece, nada é perfeito! e não é o fim do mundo. Mas a razão por que escrevo isto é relativa a coisas muito mais importantes que um final de tarde singular, entediante com a ilusão do significado de uma palavra. O meu objectivo neste texto é apelar à auto-confiança de cada um. Pois as palavras perdem a força. Dizemos que vamos fazer uma coisa e fazemos a exacta oposta. Dizemos que nos queremos comprometer e não aparecemos ao compromisso, nunca. No fundo isto é muito mais central, muito mais essencial e está muito mais nas raizes dos nossos problemas, do que nós pensamos. Não confiar em nós mesmos é dos obstáculos maiores na nossa vida. Nunca confiarmos que a nosso passo conseguimos sair do mau caminho que nos metemos ou simplesmente não acreditar em nós mesmos quando nos dizemos “eu consigo”, “eu mereço” ou a mais importante das afirmações, para nos elevarmos, o “eu amo-me”. Pode muito bem seguir-se a pensamentos destes a conclusão: “ah sim! da mesma forma que me comprometi no outro dia e não o fiz”, para quem não é leal ao que afirma. A falsidade das palavras em um acto consciente despromove-nos da capacidade de controlo da nossa realidade, como consequência de sermos incapazes de sermos sinceros e verdadeiros e de partilharmos o nosso mais intimo. Quando numa resposta automática já respondemos sempre “está tudo bem!” à pergunta diária de “‘’tá tudo?”, quebra a hipótese de trazer ao de cima o nosso problema em questão de modo a desentoxicar e trazer uma eventual cura à situação. Por vezes é normal: não é a melhor altura ou não é com estas pessoas com quem devo partilhar o meu problema. Mas nem sempre assim é! Nós não sabemos tudo. Não sabemos todos os planos que o universo tem para nós e, admitindo isso, não tem importância. Por vezes são apenas grandes problemas na nossa cabeça e podem muito bem ser as pessoas aleatórias que nos rodeiam no momento, que nos podem confrontar com a tal inimaginável solução para o nosso problema. No fundo contribuimos fortemente para o crescer das nossas ilusões quando garantimos algo e não o fazemos. Quando simplesmente não confiamos na verdade. Isso mesmo, confiar na verdade! Verdade é a vida o resto é ilusão. Quando pela primeira vez li o sutra sobre satya, sinceridade, como um dos yamas, principios morais para com os outros. Compreendi o quanto profundos os efeitos da prática da sinceridade podem ter na nossa vida. सत्यप्रतिष्ठायां क्रियाफलाश्रयत्वम्॥३६॥ Satya-pratishtayam kriya-phalasrayatvam - Yoga Sutras 2:36 satya (=) verdade; pratishtayam (=) firmemente establecido; kriya (=) acção; phalas (=) fruto; asrayatvam (=) base. tradução - estando firmemente establecido na verdade (honestidade), os resulados das ações estão estritamente baseados nesta. Fundamentalmente este sutra expressa que se por longos periodos de tempo expressares a verdade apenas, o sentido inverte. Ou seja, tu e a verdade estão tão estritamente ligados, que seja o que fôr que expressares será verdade. Após grande lealdade estabelecida (por longos períodos de tempo) com a verdade, com a nossa palavra, aquilo que dizemos e nos comprometemos-nos, a união entre o Eu e a verdade está tão estabelecida, que qualquer coisa que seja dita acontecerá, quase profeticamente. É apenas uma força brutal, uma ligação, uma união entre a verdade e um ser que pode ter este efeito. Tão “um” que até se pode dizer que se confundem. A responsabilidade pela verdade interior e a responsabilidade por aquilo que desejamos e queremos verdadeiramente, começam a ter poderes profundos, por se manifestarem todas as nossas intenções. Daí a napessecidade por olhar cuidadosamente pelo que estamos desejando e pelo que dizemos que queremos, porque quando somos leais à verdade essas coisas acontecerão. Percebido isto tomei uma consciêcia maior do que dizia. Pois, não queria andar a dizer coisas que não queria, promessas que não queria manter, para não as atrair e não ter que lidar com elas. Aquele falar da boca fora começara a ser mais sintonizado com o meu verdadeiro ‘querer’. Nem sempre as coisas são tão claras, mas é todo um processo para esse destino de clareza que podemos fazer. Afinal somos a causa da nossa situação e deste modo podemos começar a assumir o controlo, ainda que sútil, do rumo da nossa vida. 04.06.2017 Sérgio Ramos
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