![]() Já todos devem ter passado por esse momento em que o pensamento pára entre uma ação e outra. É uma pausa do fluxo da nossa consciência e esse momento pode ser chamado de Pratyahara. Nesse contexto para mim a memória que vem é de um dia à noite numa praça da cidade onde eu fiz a universidade, em que o meu expirar do ar era quente na noite fria e formava uma nuvem quente de carbono. Essa nuvem quente pairava pelo ar. Lembro-me de estar nessa praça logo após uma das minhas primeiras sessões de yoga, sair para a noite fria vindo da sessão e simplesmente contemplar essa expiração quente que pairava pelo ar formada por mim. O momento em que até mesmo a minha própria visão sob essa nuvem tinha perdido importância, vivendo esta sensação de quase inverter o sentido dos sentidos para o interior. Uma oportunidade que vem em momentos entre pensamentos e entre ações. E era precisamente nessa situação em que eu estava: tinha acabado de terminar uma sessão de ioga e estava livre até o próximo compromisso. Esse momento de pausa entre dois eventos da minha vida deu-me um tempo para contemplar a minha mente e o meu estado. Claro que esse momento não evoluiu para algo mais profundo, nem se estendeu eternamente, mas recordo perfeitamente dessa sensação ser vivida e pura. Colocou-me naquele momento a estar simplesmente aberto e consciente do que é que eu estou a viver no ‘aqui e agora’. Nesse sentido Pratyahara é sem dúvida um passo importante dos oito passos de Patanjali, que se assemelha a Nirodha Samadhi algo que é explicado em detalhe no terceiro capítulo, Vibhuti Pāda dos Yoga Sutras. Contudo a minha singela experiência vivida na praça da cidade universitária onde estudei, não passou de um evento casual, que me reconfortou e deixou-me a ser apenas eu. Não precisei de saber ou estudar o que Pratyahara quer dizer e é, para viver a sua experiência. E apenas anos mais tarde consegui recordar esse momento e outros semelhantes e identifica-los como eventos óbvios, ou não tão óbvios, do meu processo mental. Dos oito (astau) passos/ membros (angas) para o Yoga de Patanjali, Pratyahara é o quinto passo. Pratyahara não é apenas um quinto passo, não é só o que vem a seguir. Pratyahara é um portal entre Bahiranga e Antaranga, entre os passos que se focam no exterior e os que se focam no nosso interior. Pois é no nosso interior que se vai demonstrar todo o nosso potencial, a nossa verdadeira natureza e todas as suas riquezas. Pratyahara é a passagem de um modo de prática para outro. E não haveria Yoga algum se este segundo não se considerasse. O Yoga acontece dentro de nós e pelo caminho podemo-nos sensibilizar e aplicar todos os anteriores passos, mas se chegarmos à reta final e não observarmos prontamente Pratyahara, o Yoga jamais encontrará as suas raízes no íntimo do nosso ser. A longo prazo Pratyahara é um estado de consciência muito importante no caminho do Yoga, e o mergulho em si mesmo começa aqui e agora. स्वविषयासंप्रयोगे चित्तस्य स्वरूपानुकारैवेन्द्रियाणां प्रत्याहारः ॥५४॥ 2:54 Yoga Sutras svaviśayāsamprayoge chittasyasvarūpānukara ivendriyānām pratyāhārah Pratyahara é o retorno da consciência à sua própria forma (sem forma), por meio de retirar os sentidos da mente dos seus respectivos objectos. Por outras palavras, poderemos resumir ao voltar dos sentidos (os seis sentidos: tacto, olfacto, audição, visão e paladar) para o interior. Talvez anulando as capacidades perceptivas e culminando juntos, seis, num sentido extrasensivel interno e anterior. Como referi, ao início deste texto, Pratyahara - assim como todos o primeiros 5 passos de Patanjali - são de certa forma acessíveis e por vezes aparecem espontaneamente na vida de todos nós. Talvez surge - no caso de Pratyahara - no final de uma festa à ida para casa, em algum momento num passeio na Natureza, no intervalo do trabalho… em ambientes que permitem desligar a interação dos nossos sentidos com o exterior e voltá-los para dentro, para nós, por vezes com uma sensação de reconforto e segurança. Neste contexto, Pratyahara aparece espontaneamente e não de forma sistemática, como parte de um sistema de evolução e desenvolvimento pessoal. Assim é sugerido Pratyahara na Ashtanga Yoga de Patanjali: Pratyahara como porta para o nosso potencial interior e conectado com o todo. Este vislumbres de Pratyahara ou Nirodha Samadhi espontâneos na nossa vida, levam de nós o controle do nosso desenvolvimento pessoal. Apenas Kriya Yoga de Patanjali - tapas, svadhyaya e iśvara pranidhana - para cultivar controlo nesse desenvolvimento consciente de auto-realização. Pratyahara é como para todos os grandes reinos, mas para o reino do interior. É uma porta, um portão, um portal. E como todas as grandes entradas de palácios, estão sempre protegidos pelos seus guardiões e no caso de Pratyahara os sentidos são os guardiões. O Eu que está por de trás dos sentidos tem de atravessar dos objetos interagidos pelos sentidos externamente, de volta para o Eu interior, sem tal identificação com os objectos - o reino interior. E na jornada do yoga descrita por Patanjali os objetos são usados e são incluídos na jornada de desenvolvimento pessoal para infusão do Eu com o cosmos, o absoluto, todo universo. Não é uma jornada de desprezo para com o meio material mas de inteligentemente usar o material como semente, de âncora da mente e da consciência para atingir esse potencial. Potencial que leva-nos a descobrir o reino interior - e esse Eu universal também presente em todas as coisas. Patanjali refere Pratyahara no final segundo capítulo de quatro (Sadhana Pāda), expondo a componente prática do caminho de Yoga, no verso 2:54 que transcrevi em cima. Mas são vários os versos ainda antes no primeiro e segundo capítulo que, pelo menos para mim, só vêm realçar a importância de Pratyahara. A importância de Pratyahara como um Anga (passo) com merecimento a mencionar isoladamente. Ainda que, Pratyahara fosse mencionado ao final do segundo capítulo como o quinto passo dos oito passos de Patanjali para o Yoga, eu vejo que o estudante é sutilmente introduzido à sua ideia já no primeiro capítulo. Pratyahara é apresentado, a meu ver como o grande portal de Bahiranga - dos conteúdos referentes à jornada externa - para Antaranga - os conteúdos referentes à jornada interna. E nesse contexto sempre que é referido a necessidade do mergulho ao interior, para explicar o processo ou objectivo de passos anteriores, a noção de Pratyahara é sutilmente introduzida na nossa mente bem antes da sua menção e de ser revelada o seu papel no processo. Eis os seguintes versos analisados em relação a Pratyahara: ततः प्रत्यक्चेतनाधिगमोऽप्यन्तरायाभावश्च tataḥ pratyakcetanādhigamo‘pyantarāya abhavaś ca 1:29 YS ‘Quando se prática a inversão da consciência, voltando-a para o interior, os obstáculos são ultrapassados”, traduz-se o sutra (verso) que citamos a cima. Embora na descrição de Pratyahara, são os sentidos da mente que se retiram dos seus objectos sensoriais, a prática descrita a cima não está longe de encapsular Pratyahara numa perspectiva total e holística. Na verdade por onde viaja a nossa sensação, vai a consciência da experiência da nossa sensação e carregando toda a experiência para a mente. Esta é a base para evitar o agravamento dos obstáculos que nos possibilitam perdermos-nos no caminho, e talvez o início da jornada do Yoga. E é assim também a definição de Pratyahara, pronto a mergulhar na verdadeira jornada do Yoga, mais profunda e mais interna. तत्प्रतिषेधार्थमेकतत्त्वाभ्यासः tat-pratiṣedha-artham-eka-tattva-abhyāsaḥ 1:32 Este sutra acima recitado refere que para a remoção dos obstáculos e os sintomas que os acompanham (mencionados nos versos anteriores), um deverá praticar a concentração em um único princípio. O próprio foco em um único objecto, requer a abstração de todos os outros objectos a que os nossos sentidos estão exposto. Envolve em aguçar a mente para não se distrair ao desenvolver concentração. Para tal um terá que se realizar de que a direção da sua atenção e intensificação da sua concentração parte voluntariamente de dentro de si - e é esse resgate do auto-poder que Pratyahara sugere. Antaranga consiste em Dharana, Dhyana e Samādhi - por outras palavras Concentração, Meditação e Liberação. Pratyahara é a rampa de lançamento para todo um Universo interno. E para tornar consciente a simples experiência de se estar concentrado ou em um estado meditativo, é preciso ter a consciência de que o que permite isso é a nossa capacidade de perder as amarras que os nossos sentidos têm sobre os objectos exteriores. E soltos um pode finalmente ver se livre, e sentir-se a si mesmo, observar-se e cultivar a concentração que parte dentro de si, torná-la em meditação e logo em um estado profundo de liberação: Samādhi, sendo liberação das causas individuais, e perspectiva maior, a união com a realidade e a causa Universal. Eu sou defensor de que no caminho do Yoga a humildade faz o caminho. A união com o cosmos é nosso objetivo, porque aí já estaremos desassociados com os desassocegos da alma - as amarguras e o prazeres - e conseguiremos um maior potencial vivêncial de felicidade, propósito e abundância. Mas como o caminho não começa no fim, a técnica mais sugerida é meditação. Para mim o estado meditativo será algo que acontece e espontaneamente proporciona-se no universo interno de cada um, sendo que a técnica mais acessível a podermos tentar é o exercício da concentração. Para tal um terá de começar bem antes em Pratyahara, no domínio dos sentidos, agarrando nas rédeas que estendem da nossa consciência para o mundo exterior. Muitas são as técnicas para assumir esse controlo pessoal, mas qualquer uma delas desenvolverá Pratyahara e Pratyahara desenvolverá essa técnica. ENYou all must have already pass through that moment in which thought stops in between one action and another. It is a pause of the flow of our consciousness and that moment can be called as Pratyahara. In that context the memory that comes is of one day at night in the square of the city where I did University, where my exhale of air was warm in the cold night and it formed an hot carbon cloud. That warm cloud was flouting through the air. I remember being in that square right after one of my first yoga sessions , coming out into the cold night coming from the session and simply contemplating that hot exhalation that flouted through the air formed by me. The moment that even my own vision on that cloud had lost relevance,living this sensation of almost inverting the way of the senses towards inside. An oportunidade that presents itself between thoughts and actions. And it was exactly in that situation that I was: I had just finished a yoga session and was free until the next appointment. That moment between two events of my life gave me a time to contemplate my mind and my state. For sure that that moment didn’t evolve to something more deep, and didn’t extend itself to eternity, but I recall that sensation having been lived and pure. It placed me in that moment to being completely open and conscious of what I am living in the ‘here and now’. In that sense Pratyahara is without a doubt an important stepfather the eight steps º Patanjali, that is similar to Nirodha Samādhi which is explained in detail in the third chapter, Vibhuti Pāda of the Yoga Sutras. Overall my one of a kind experience lived in the square of the university city where I studied, didn’t pass as a casual event, that comforted me and left me being just me. Didn’t need to know or study what Pratyahara means and is, to live its experience. And only years later could I remember this moment and other similar ones and identify them as obvious, or not so obvious, events of my mental process. Of the eight (astau) steps/ limbs (angas) to Yoga of Patanjali, Pratyahara is the fifth step. Pratyahara is not just the fifth step, it is not just the step that comes after. Pratyahara is a portal between Bahiranga and Antaranga, between the steps that focus on the exterior and those that focus on the interior. Because it is inside that it will show our full potential, our true nature and all its richness. Pratyahara is the passage from one mode of practice to the other. And there wouldn’t be any Yoga if this second wouldn’t be considered. Yoga happens inside of us and on the way we can become sensible and apply all the previous steps, but when arriving the ‘final sprint’ not observing readily Pratyahara, Yoga will never find it roots in the intimate of our being. In the long-term Pratyahara is a state of consciousness very important for a Yoga path, and the dive within you starts here and now. स्वविषयासंप्रयोगे चित्तस्य स्वरूपानुकारैवेन्द्रियाणां प्रत्याहारः ॥५४॥ 2:54 Yoga Sutras svaviśayāsamprayoge chittasyasvarūpānukara ivendriyānām pratyāhārah Pratyahara is the return of consciousness to its own shape (shape less), through the means of withdrawal of the senses of the mind from their respective objects. By other words, we can resume the turning of the sense (the six senses: tact, smell, hearing, vision and taste) to the interior. Maybe nulling the perceptive capacities and culminating together, six, in one extra-sensorial sense internal and prior. As I referred, at the start of this text, Pratyahara- as is all first 5 steps of Patanjali - they are in a way accessible and often show up spontaneously in the life of all of us. Perhaps it occurs - in the casa of Pratyahara - at the end of a party returning home, at some point in a walk in Nature, , at a break from work… in ambiences that allow turning off the interaction of our senses with the exterior and turning them inward, towards ourselves, at times with a sensation of comfort and safeguard. In this context Pratyahara shows up spontaneously and not in a systematic way, as a part of a system of personal evolution and self-development. In that way Pratyahara is suggested in the Ashtanga Yoga of Patanjali: Pratyahara as a doorway to our inner potencial and connect with whole. This sighting of spontaneous Pratyahara or Nirodha Samādhi in our life, takes from us the control over our personal development. Only Kriya Yoga of Patanjali - tapas, svadhyaya and iśwara pranidhana - to cultivate control in this conscious development of self realization. Pratyahara is as for all great kingdoms, but to the inner kingdom. Is a door, a gate, a portal. And as any great entrances to palaces, they are always protected by their gate keepers, guardians, and in the case of Pratyahara the senses are the guardians. The Self that is behind the senses has to cross from objects interacted by the senses externally, back to the inner Self, absent of such identification with senses - the inner kingdom. And in the journey of yoga described by Patanjali the objects are used and included in the journey of self- development to infuse the Self with the cosmos, the absolute, the whole universe. It isn’t a path of despising the material means but of intelligently use the matter as seed, anchor of the mind and consciousness to attain that potential. Potential that takes us discovering the inner kingdom - and that universal Self present in all things. Patanjali referes Pratyahara at the end of the second chapter of four (Sadhana Pāda) exposing the practical componente of the path to Yoga, in the verse 2:54 that I transcribed above. But there are several the verses still in the first and second chapters that, at least for me, only come to reinforce the importance of Pratyahara. The importance of Pratyahara as an anga (step) with merit to mention in isolation. Even Pratyahara being mentioned at the end of the second chapter as the fifth step of the eight steps of Patanjali to Yoga, I see that the student is subtly introduced to its idea already in the first chapter. Pratyahara is presented, in my view as the great portal of Bahiranga - the elements in reference to the external journey - to Antaranga - the elements in reference to the inner journey. And in that way every time the need to dive inward is referred, to explain the process or the objective of the previous steps, the notion of Pratyahara is subtly introduced in our mind well before of its mention and of being revealed it’s role in the process. Here the following verses are analises in relationship to Pratyahara: ततः प्रत्यक्चेतनाधिगमोऽप्यन्तरायाभावश्च tataḥ pratyakcetanādhigamo‘pyantarāya abhavaś ca 1:29 YS ‘When the inversion of consciousness is practiced, turning it inward, the obstacles are overcome’, translates the sutra (verse) above quoted. Although in the description of Pratyahara, are the senses of the mind the refrain themselves from the sensorial objects, the practice described above is not far from encapsulating Pratyahara in a total and holistic perspective. In truth through where our sensation travels, so goes the consciousness of the experience and carrying all the experience to the mind. Such is the way to avoid the worsening of the obstacles that allow to lose ourselves in the way, and maybe the beginning of the Yoga journey. And so is the definition of Pratyahara, ready to dive in the real Yoga journey, more deep and internal. तत्प्रतिषेधार्थमेकतत्त्वाभ्यासः tat-pratiṣedha-artham-eka-tattva-abhyāsaḥ 1:32 The above recited sutra referes that for the removal of the obstacles and the accompanying symptoms (mentioned in the previous verses), one shall practice the concentration on one principle. The focus on one only object, requires the abstraction of all other objects at which our senses are exposed to. It is about sharpening the mind not to distract oneself upon developing concentration. And so one has to realize that the direction of attention and intensification of concentration starts willingly within us - and it is that recovery of self-empowerment that Pratyahara suggests Antaranga consists in Dharana, Dhyana and Samādhi - in other words Concentration, MAnd dictation and Liberation. Pratyahara is the launching ramp to a whole internal Universe. And to become conscious of the simple experience of being focused or in a meditative state, it’s necessary to be aware that what allows this is our capacity of letting go the chains that our senses have on our external objects.And free one can be really feel and observe ifself, and cultivate the focus that starts from within, turn it into meditation, and further on a deeper state of liberation: Samādhi, being the liberation the individual causes, and a broader perspective, a union with reality and an Universal cause. I am defensor that in the way of yoga humility makes the way. The union with the cosmos is our objective, because there we will be already unassociated with the afflictions of the soul - sorrows and pleasures - and will attain a bigger livelihood potencial of happiness, purpose and abundance. BUtbecause the way doesn’t start at the end, the most suggested technique is meditation. For me the meditative state is something that happens in the internal universe of each one of us, being that the most accessible technique to try is the exercise of concentration. For such one might start very well before in Pratyahara, in dominion of the senses, taking hold of reins that extend themselves from our consciousness to the outside world. Many are the techniques to assume this personal control, but any of them will develop Pratyahara and Pratyahara will develop that technique. ![]() Sérgio Ramos
5.5.2024
0 Comments
Leave a Reply. |
Autores AuthorsSérgio e Vanessa partilham cada artigo. Para mais sobre o Sérgio e a Vanessa visite o link Sobre Nós. Categories
All
|